domingo, 8 de janeiro de 2017

Tudo aquilo que jamais se espera encontrar em uma mulher



De longe o meu conto preferido em "Ela e outras mulheres" é Guiomar. Se por um lado há um certo deboche na descrição das personagens de Rubem Fonseca, constantemente chamadas de feias, velhas e burras, parecerem interessantes somente quando jovens e belas, e, ainda assim, mediante qualquer incomodo, serem assassinadas,  por outro, o autor se redime, apresentando atributos femininos capazes de pagar na mesma moeda. 

Um líder industrial que tem sua carreira arruinada após ser injuriado e caluniado pela jornalista Helena, quando, na verdade, havia cometido somente o erro de dizer que não sentira desejo por ela. Francisca, noutro conto, transforma o sonho de toda mulher - matar o marido - em uma determinação realista. Luíza prega a peça de cortar o pau do amante. E Zezé taca uma caixa de comprimidos no vinho do parceiro, esperando uma ereção que durasse mais de dez minutos: “para ter um orgasmo, matei um homem”. 

Já Guiomar é diferente, subverte todos os sentimentos de injustiça e calúnia dos outros contos. Não sabemos se Guiomar é jovem e bonita, nem de rosto ou de corpo. O destaque do conto não são os atributos da dona e sim a busca de um homem pela mulher completa, como sua mãe. Uma mulher, conforme orientação de seu pai deveria saber lavar, passar e cozinhar muito bem. Sua busca sempre fracassava já que às vezes a comida era boa e a lavagem de roupa uma droga, ou vice-versa.

Guiomar não sabia lavar, passar nem cozinhar. Era o avesso do que buscava em uma mulher, mas a foda havia sido tão boa, não especificou em momento algum o jeito dela na cama, e sim, o fato de trepar com ela ter sido muito bom e não bastava repetir por muitas e muitas outras vezes. 

Guiomar e o porteiro são os mais lúcidos de todo o livro, apaixonados e de bem com a vida, não havia explicação: “Nunca pensei que foder fosse uma coisa tão boa. Se quisesse contar como foi a minha trepada com Guiomar, eu tinha que ser um escritor daqueles que escrevem livros grossos cheios de páginas. O que sei é que depois que fodemos não sei quantas vezes eu fiquei deitado na cama, ela com a cabeça em cima do meu peito, feliz como nunca”. 

Em psicanálise se diz que não existe relação sexual. Aquilo que se espera ser para o outro não é necessariamente aquilo que o outro quer. Consequentemente, aquilo que se imagina encontrar no outro para nos completar, tampouco será encontrado. Por isso escapava, faltavam palavras, por isso nada mais importava, inexistia: o amor, esse engano imaginario que faz parecer completo até o oposto de tudo aquilo que se buscava encontrar.

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