De longe o meu conto preferido em
"Ela e outras mulheres" é Guiomar. Se por um lado há um certo deboche
na descrição das personagens de Rubem Fonseca, constantemente chamadas de
feias, velhas e burras, parecerem interessantes somente quando jovens e belas, e, ainda
assim, mediante qualquer incomodo, serem assassinadas, por outro, o autor se redime, apresentando atributos
femininos capazes de pagar na mesma moeda.
Um líder industrial que tem sua
carreira arruinada após ser injuriado e caluniado pela jornalista Helena, quando,
na verdade, havia cometido somente o erro de dizer que não sentira desejo por
ela. Francisca, noutro conto, transforma o sonho de toda mulher - matar o marido - em uma
determinação realista. Luíza prega a peça de cortar o pau do amante. E Zezé
taca uma caixa de comprimidos no vinho do parceiro, esperando uma ereção que durasse
mais de dez minutos: “para ter um orgasmo, matei um homem”.
Já Guiomar é diferente, subverte
todos os sentimentos de injustiça e calúnia dos outros contos. Não sabemos se
Guiomar é jovem e bonita, nem de rosto ou de corpo. O destaque do conto não são
os atributos da dona e sim a busca de um homem pela mulher completa, como sua
mãe. Uma mulher, conforme orientação de seu pai deveria saber lavar, passar e
cozinhar muito bem. Sua busca sempre fracassava já que às vezes a comida era
boa e a lavagem de roupa uma droga, ou vice-versa.
Guiomar não sabia lavar, passar
nem cozinhar. Era o avesso do que buscava em uma mulher, mas a foda havia sido tão boa, não especificou em momento algum o jeito dela na cama, e sim, o fato de trepar com ela ter sido muito bom e não bastava repetir por muitas e muitas outras vezes.
Guiomar e o porteiro são os mais
lúcidos de todo o livro, apaixonados e de bem com a vida, não havia explicação: “Nunca pensei que foder fosse uma coisa tão boa. Se quisesse contar como
foi a minha trepada com Guiomar, eu tinha que ser um escritor daqueles que
escrevem livros grossos cheios de páginas. O que sei é que depois que fodemos
não sei quantas vezes eu fiquei deitado na cama, ela com a cabeça em cima do
meu peito, feliz como nunca”.
Em psicanálise se diz que não
existe relação sexual. Aquilo que se espera ser para o outro não é
necessariamente aquilo que o outro quer. Consequentemente, aquilo que se
imagina encontrar no outro para nos completar, tampouco será encontrado. Por
isso escapava, faltavam palavras, por isso nada mais importava, inexistia: o amor, esse engano imaginario que faz parecer completo até o oposto de tudo aquilo que se buscava encontrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário