Se
os gatos tivessem o mesmo poder de usar as palavras tanto quanto
utilizam os movimentos, seriam bons oradores e exímios escritores.
Um passo em falso lá se vai muro abaixo. Uma vírgula desajeitada e todo sentido da frase se modifica.
Às
vezes ocorrem alguns desequilíbrios, saltos maiores do que o corpo
aguenta, textos maiores do que a paciência do leitor. Acontece que os
gatos, feito revisores prévios do texto, analisam cuidadosamente o
obstáculo ou presa.
Gatos
são elegantes. Saberiam bem dizer em qualquer circunstância:
felicitações, conquistas, perdas, morte. Adultério. Se nada têm a dizer,
saem de fininho ou se acomodam a ponto de não notarem sua presença.
Outra
qualidade importante: em poucas palavras arrancariam boas gargalhadas.
Dão alegria ao ambiente, mas se o tempo não está bom, usam da
sensibilidade para confortar de algum modo, geralmente um ronron.
Se
fosse necessário apontar uma única qualidade para conferir ao gato o
potencial das palavras, sem dúvida, seria a capacidade de surpreender.
Gatos jamais repetiriam clichês ou diriam o que todos estão esperando
ouvir. Seriam bons em trocadilhos e, inclusive, bons psicanalistas. Não
dariam conselhos, como fazem os amigos, mas nos fariam pensar: "o que
foi mesmo que ele quis dizer?".
Usar
bem as palavras nem sempre significa dizer exatamente alguma coisa,
alguma verdade, mas apontar uma abertura naquilo que se diz para
produzir efeitos melhores do que se tem até então. Feito o movimento dos
gatos: está sempre além do espaço que ocupam.
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